sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Casa da Rússia.

 
 
 













 

 
Há semanas atrás, disse que gostaria de mostrar aqui – pois creio não ser muito conhecido entre nós – um livro infantil russo. Saiu em 2016, não há edição que não seja em russo e, portanto, aqui vai título: Istorija staroj kvartiry. Assim dito, não ficamos lá muito elucidados. Eu também não. Mas ajudaram-me a ler umas partes cirílicas e até pelos desenhos dá para perceber que é a história de uma casa e das famílias que a habitaram através da Rússia do século XX, desde 1902 até 2002. A história vai-se sucedendo por quadros, cada um de um ano-chave, e vemos a evolução da família e dos gostos, a marca do que se passava fora de casa: uma revolução centenária, o comunismo opressivo, os tempos da 2ª Guerra, o degelo e suas promessas, a invasão dos produtos ocidentais, o viver encafuado. Soljentisin, Sakharov, alguns rostos reconhecíveis, num mar de letras que nada dizem a quem os não souber ler. Mas as ilustrações de Anna Desnickaja são preciosas, misturando (falsas) colagens de fotografias, cartas, envelopes delidos pelo passar dos anos. Para quem está deste lado da Europa (e é bimbo, falo por mim), aqueles caracteres e aquelas figuras fazem logo lembrar as vanguardas russas do início do XX século. Seria bom mendigar uma tradução inglesa, ao menos, uma vez que se trata de uma obra premiada. Se quiserem ver mais, aqui têm mais. Já que falamos de casas moscovitas, uma coisa menos infantil, até quiçá pesada e trágica, um artigo extraordinário na The New Yorker. Assinado por Joshua Yaffa, «Russia’s House of Shadows», sobre uma famosa casa da Rússia, a Casa do Governo, sinistro bloco de apartamentos da elite soviética, arena de purgas e prisões nocturnas que este que aqui escreve já teve ensejo de contemplar, petrificado.

 

 

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